Nesta segunda-feira enterramos a irmã Nilza. Ela era esposa do meu sogro – mas não a mãe de minha esposa.
Depois de trinta dias no CTI de um hospital estadual e algumas melhoras e pioras seu corpo físico não resistiu.
Foi difícil entender o que aconteceu. Ela entrou ha trinta dias naquele hospital enfartada, mas estava andando, falando e aparentemente estável. Foi levada para o CTI e lá começou uma caminhada triste e dolorosa.
Nesse início, os médicos só falavam em recuperação do enfarte e fazer um cateterismo. O pedido do exame só foi liberado para marcação depois de quinze dias – não houve explicação para essa demora. No dia marcado, resolveram – não sei bem quem – colocar um outro paciente em seu lugar. No dia seguinte o aparelho entrou em manutenção e seu exame ficou para o terceiro dia da data indicada.
A essa altura dos acontecimentos o peso do tempo em cima de uma cama - onde ela estava monitorada e limitada a pequenos movimentos – trouxe desânimo e um estado emocional que bem pode ser definido com depressão.
Para complicar ou não – para ser bem sincero já não sei bem – no terceiro dia, o médico de plantão sugeriu que o exame não fosse realizado tendo em vista que ela apresentava também uma dificuldade renal que poderia piorar em função do contraste do cateterismo.
Nesse momento surgiu em minha mente uma dúvida: “Será que ela já entrou aqui com essa deficiência renal e só agora foi identificado?”.
Com certeza essa, é mais uma dúvida que não será esclarecida nessa triste caminhada da internação da irmã Nilza.
O exame não foi realizado e a indicação agora era trata os seus rins. Neste momento surgiu uma luz no fundo do túnel – pelo menos pensamos assim. O médico que desaconselhou o cateterismo considerou existir uma melhora no quadro dela suficiente para gerar uma transferência para a enfermaria – esta notícia alegrou a todos, principalmente a ela que ansiava por mais mobilidade. Mas infelizmente – apesar de haver uma alta assinada pelo médico de plantão do dia anterior -, o médico do dia, logo nas primeiras horas da manhã – duas ou três horas depois que o outro saiu - cancelou a decisão do seu colega e ela permaneceu no CTI. Mais uma pergunta que ficou sem resposta:
“Como um médico pode cancelar uma alta concedida por outro usando os mesmos exames para avaliar o quadro da paciente numa diferença de no máximo três horas?"
Depois deste acontecimento nos pareceu que ela entregou os pontos e desistiu de lutar. Na semana seguinte ela apareceu com uma infecção pulmonar e passou a respirar com ajuda de tubos. Dez dias depois mudaram o procedimento de respiração que passou a ser pela traquéia, a partir daí ela não resistiu muito e faleceu.
O óbito aconteceu por volta das o6:00 do dia 23/01, mas inexplicavelmente – já que os dois telefones de contato que estavam anotados no hospital tiveram sua ordem invertida – só tivemos conhecimento do fato por volta das 13:00 por uma pessoa que estava no hospital e tomou conhecimento por acaso.
Chegamos ao hospital estadual ás 14h00min para confirmar a informação que de fato era verdadeira. Ter notícia do óbito no hospital foi relativamente fácil, mas receber o laudo de morte para tomarmos providências foi outro transtorno.
Apesar do erro do hospital em não conseguir informar os parentes, nada foi feito para agilizar nossa saída de lá. Tivemos que aguardar até as 18h00min por um médico que sempre estava atendendo alguém. Enquanto isso a família e amigos estavam desesperados não só com a perda, mas também com a ausência de notícias sobre o enterro.
Impaciente – com toda razão – meu sogro entrou no CTI atrás do médico e descobriu que o problema era que o médico que estava de plantão no horário da morte não havia deixado o registro do acontecimento e nem assinado nada. Depois da pressão colocada pelo meu sogro para uma solução do assunto, alguém apareceu dizendo que o tal médico deixou a documentação na sala de trauma (será que o médico deixou no lugar errado ou estavam procurando no lugar errado, ou mesmo, será que existe um lugar certo para se deixar esse tipo de documento?).
Se foi verdade ou não eu não sei, mas quando foi 18:30 saímos do CTI para registrar o laudo na sala de emergência do mesmo hospital. Ao chegarmos descobrimos que o médico que assinou o documento não colocou a hora e nem o dia do óbito. Para evitar mais algumas horas de atraso eu mesmo peguei o documento e fui até o CTI para que o documento fosse corrigido.
Uma coisa engraçada no meio de toda essa tristeza: “A sensação que fica é que nós é que estamos errados ou dando trabalho em todo esse processo”.
Quando nós – o corpo infelizmente teve que ficar lá mais uma noite - saímos do hospital – com mais de 24 horas da irmã Nilza morta – já eram por volta das 19:00, pela misericórdia de Deus conseguimos ainda contratar o serviço fúnebre naquela mesma noite e programamos o enterro para ás 13:00, já que não seria tão fácil informar o horário a todas as pessoas próximas.
Independente desses momentos confusos, conseguimos chegar à cidade de Maricá por volta da 20:10, onde estávamos encarregados de ministrar a Palavra de Deus na Igreja Metodista de Maricá – Reverendo Aurélio. Lá com sua Palavra, Deus nos animou e nos deu força para o dia seguinte, quando foi realizado o enterro.
Por que estou compartilhando tudo isso? Porque acredito que Deus pode colocar um visitante nesse blog que fique sensibilizado e tenha condições reais de questionar o que acontece dentro dos hospitais públicos. Os detalhes que compartilhei são só uma pequena parte de um universo de coisas difíceis de entender que nunca são explicadas, mas deveriam.
Como administrador, tenho consciência que não adianta uma placa na recepção certificando uma unidade de saúde, ela – a unidade de saúde que inclui funcionários, equipamentos e procedimentos – precisa respirar essa qualidade.
Orem pelo Pr. João, esposo da Missionária Nilza e pelo seu filho Leandro, ambos precisam do consolo de Deus.
Em Cristo
Pr. Paulo Cesar Nogueira
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