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terça-feira, 15 de março de 2011

ESPAÇO LITERÁRIO - O Novo Livro de Michel Laub (Diário da queda)

A colunista Raquel Cozer do Estadao.com, está indicando para os leitores o livro “Diário da queda, editora Companhia das Letras, 162 páginas ao preço de R$ 38,50”- o quinto romance - do escritor gaúcho Michel laub.

Está é a quinta incursão do autor – que tem despontado dentro do cenário nacional literário - em narrativas longas, onde ele aborda pela primeira vez em seus livros a temática judáica.

Segundo o próprio autor, ele mesmo nunca havia pensado em falar de forma ficcional sobre um tema familiar dentro do seu contexto de vida, mas neste cenário, encontrou espaço para que seu texto fosse ao limite do questionamento ético, dentro do que a ficção permite fazer.

Pela sinópse, a estória me pareceu ser bem interessante, sem falar no fato dele ter usando a técnica de misturar realiadade com ficção, o que dá ao texto uma liberdade sem limites.

Creio que vale a pena conferir.

Em Cristo

Pr. Paulo Cesar Nogueira

 
Saiu hoje no Caderno 2 meu texto sobre Diário da Queda, quinto romance de Michel Laub. Achei o livro tão bom que fiquei com pena de, contra o relógio, no fechamento, não ter conseguido escrever algo que fizesse jus ao romance, ao menos como eu gostaria. Publico abaixo, para constar, mas para quem quiser entender melhor recomendo a leitura do primeiro capítulo, que o Laub postou no blog dele.
Na quinta incursão em romance, Michel Laub volta o olhar para o judaísmo

Raquel Cozer – O Estado de S.Paulo

Aos 13 anos, um garoto judeu participa de uma brincadeira que deixa um colega gói (sem origem judaica) machucado e humilhado em sua própria festa de aniversário. Mais ou menos na mesma época, toma conhecimento de detalhes cruciais sobre a história do avô, que chegou ao Brasil após sobreviver ao Holocausto.

“Se na época perguntassem o que me afetava mais, ver o colega daquele jeito ou o fato de meu avô ter passado por Auschwitz, e por afetar quero dizer sentir intensamente, como algo palpável e presente”, pondera, passadas algumas décadas, o narrador desses acontecimentos, “eu não hesitaria em dar a resposta.”

O cenário a partir do qual se desenrola o romance Diário da Queda permite entrever os temas delicados sobre os quais o autor gaúcho Michel Laub discorrerá nas quase 150 páginas seguintes – um tratamento ficcional, como explica, “no limite do questionamento ético que a ficção pode e muitas vezes deve fazer”. O narrador é um escritor de 40 anos, casado pela terceira vez, na iminência de ver o relacionamento seguir o mesmo caminho dos anteriores e que, entre recordações sobre o avô, o pai e aquele colega que ajudou a humilhar, tenta unir as pontas da própria identidade.

Em sua quinta incursão nas narrativas longas, Laub aborda pela primeira vez a temática judaica. “Até uns anos atrás, achava que nunca escreveria sobre isso. Na minha vida pessoal, esse é um tema muito pouco presente. Em algum ponto devo ter percebido que, mesmo sem aparecer na superfície, era algo essencial”, diz o filho de judeus, nascido e criado na mesma Porto Alegre de seu protagonista, e ex-jornalista assim como ele – as coincidências com seus personagens, diz, já viraram costume, uma aproximação capaz de causar no leitor a sensação de que tudo na ficção pode ter um fundo de verdade.

O narrador apresenta seu universo numa espécie de fluxo de memórias, em pequenas notas numeradas e aparentemente aleatórias, que vão e voltam no tempo, espalhadas por partes que recebem títulos como Algumas Coisas Que Sei Sobre o Meu Avô e Algumas Coisas Que Sei Sobre Mim.

O leitor logo fica sabendo que o avô, ao desembarcar no Brasil, começou a escrever uma estranha enciclopédia, ou algo que o valha, que mais parece se referir ao mundo como ele deveria ser do que ao mundo como ele é – e na qual, portanto, não se encontrará nenhuma referência aos tempos do Holocausto. No passado, ao mesmo tempo em que toma conhecimento dessas anotações, o narrador se aproxima de João, o colega ferido. A essas duas memórias se une a descoberta, esta já no presente, de que o pai sofre de mal de Alzheimer – e cabe ao narrador dar essa notícia a ele.

Memória. O interesse de Michel Laub pelo tema da memória se manifesta em toda a sua obra, com semelhanças como o narrador único, em primeira pessoa, que relaciona fatos de um passado relativamente distante com o presente, seja uma relação entre irmãos, caso de O Segundo Tempo (2006, finalista dos prêmios Portugal Telecom e Jabuti), seja um casamento, caso de O Gato Diz Adeus (2009). Em Diário da Queda, o escritor se deu conta de que tinha em mãos duas manifestações muito contundentes dessa característica.

“Em algum momento, percebi que não há assuntos mais ligados ao tema que os deste romance: a doença de Alzheimer, que encerra em si a questão da memória individual, biológica, e o Holocausto, que é uma espécie de símbolo da questão da memória histórica, coletiva”, avalia Laub, que aborda também, como nos livros anteriores, a manipulação possível nas recordações: “Se eu falar hoje com qualquer dos colegas envolvidos na queda de João, é possível que nenhum deles lembre dos detalhes da festa, dos motivos que nos levaram a planejar aquilo, que nenhum deles faça relação entre o desfecho do plano e o fato de João não ser judeu, porque as conveniências sociais (…) e a autoimagem que cada um construiu ao longo dos anos posteriores criaram os mecanismos de defesa que impedem a memória de registrar algo do gênero”, analisa, implacável, o narrador.

DIÁRIO DA QUEDA

Autor: Michel Laub

Editora: Companhia das Letras (152 páginas, R$ 38,50)

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