Artigo escrito pelo pastor Esdras Bentho, blog teologia e graça.
Rudolf Bultmann 1884-1976
O pensamento de Rudolf Bultmann, quer concordemos ou não com suas assertivas, ainda permanece vivo, seja por meio daqueles que abraçaram a teologia bultmanniana, seja através dos que vivem para combatê-la.
Recentemente, o Dr. Nicodemos, com a pujança literária que lhe é próprio, usando um estilo semelhante ao de Luciano, criticou com veracidade e razão a concepção cristológica do teólogo de Marburg; concordo com meu conterrâneo nesse particular.
Não conheci pessoalmente a Bultmann. Meu primeiro contato com a teologia do insigne de Wiefelstede deu-se em julho de 1998 durante o período em que era aluno de hermenêutica do Dr. Esteven Kirschner, no Ceteol . Na memorável ocasião, precisava fazer uma resenha crítica do ensaio bultmanniano de 1957, Será possível a exegese livre de premissas? Para tal empreendimento li embevecido não apenas o texto em questão, como também o texto de 1950, O problema da Hermenêutica, no qual identifiquei a influência e dependência de Bultmann da metodologia das Geisteswissenschaften de Wilhelm Dilthey.
Foi o início de minha paixão e apreço pela hermenêutica e língua alemã, (embora a língua nunca tenha sido gentil comigo) incluindo Martin Heidegger (influência de meu professor Alexandre Carrasco, enquanto cursava no inverno de 1999 Filosofia da História - Univille), Gerhard Ebeling, e Hans-Georg Gadamer. Desde então, tornei-me ávido leitor e crítico da teologia do existencialista de Marburg.
Lendo os textos de Bultmann, senti-me desafiado! Suas concepções a respeito do milagre (Mirakel e Wunder) incomodam o teólogo pentecostal, bem como a “teologia da desmitologização” esvazia a essência teológica dos evangelhos e os preenche de existencialismo. Mesmo assim, senti-me mais privilegiado do que alguns amigos que estudaram em certo seminário cuja leitura dos textos de Bultmann era desestimulada ou quase proibida. Prefiro a perturbação do saber à ataraxia do não-saber! Contudo, não se engane, como afirmara um dos mais insignes teólogo metodista, Dr. B.P.Bittencourt (1969:15), “Bultmann é liberal, liberalíssimo”.
O leitor bultmanniano, ao que parece, reage à leitura: rejeitando o pensamento do autor; aceitando a teologia bultmanniana, ou então, inicia-se um diálogo-dialético com sua teologia. Acredite, a última opção é a melhor das duas primeiras.
Não concordo com a teologia da desmitologização que, segundo, P. Tillich (1999:232), deveria ser chamada de “desliteralização”. Trata-se, conforme minha opinião, de uma concepção equivocada tanto do conceito de mythos, quanto da linguagem teológica dos evangelhos.
Todavia, entendo que a desmitologização deve ser estudada – o que até o momento os estudos teológicos no Brasil têm dado nenhuma ou pouca importância – a partir do Denkweg, da Alētheia e do Mytho do Ser heideggerianos. Foi Heidegger quem estabeleceu modernamente o caminho da desmitologização daquilo que ele compreendia como “o mundo mítico das Escrituras”. A respeito disto escreveremos noutra ocasião.
Para encerrar, cito Bittencourt (1969:16 ) – este fora discípulo de Günther Bornkamm, que por sua vez era um ou o mais notável discípulo de Bultmann – que, a respeito de Bultmann registrou:
Há os que afirmam que, estudando Bultmann, perderam a fé, tornaram-se frios, tão frios quanto o tratamento dado ao material evangélico pelo grande teólogo de Marburg. Quando porém, vejo o grande varão de Deus, já quase nonagenário, de salva na mão, a levantar as ofertas no cuto de sua comunidade na velha igreja luterana de Marburg, fico a duvidar da sinceridade dos que o acusam de haver lhes destruído. E nem poderia sê-lo, pois ele, já quase nos umbrais eternos, continua fiel ao Senhor. Basta ler alguns dos seus sermões, (Weihnachten – Noite de Natal – por exemplo), para sentir-se o calor espiritual e a inspiração de sua mensagem.
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ResponderExcluirJoelson Gomes
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