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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Niterói e as chuvas, o poder público e as concessionárias não estão preparados.

Estou escrevendo do Bairro de Santa Bárbara, Niterói, Rio de janeiro e confesso que, as nossas últimas 36 horas foram totalmente atípicas no que diz respeito ao clima e suas consequências na vida da cidade.Infelizmente uma situação como essa que vamos descrever, que aos nossos olhos soa como algo surreal, tem feito parte do cotidiano de algumas comunidades em nosso Estado. Por isso, trago esse relato a público, com o objetivo de nos fazer refletir sobre a fragilidade de nossas autoridades e  concessionárias de serviços,diante de situações de emergência.

À tarde desta segunda-feira, dia 05Abr, trouxe junto com ela uma chuva constante e forte. Independente deste fato, eu e os alunos da “Escola de Teologia” conseguimos honrar nosso compromisso de estar na igreja para a nossa aula semanal.
Ao término da lição a chuva estava mais fina, o que permitiu a todos irem para suas casas com tranquilidade. Por volta das 22h00min a chuva voltou a se intensificar e desta vez com ventos fortes, permanecendo assim durante toda noite.

Ao amanhecer do dia 06, por volta das 07h00min, ficamos sem energia elétrica, sem sinal no celular e percebemos que a via principal de acesso de nosso bairro ao centro de Niterói e ao Rio de Janeiro, que nesta manha seria meu destino, estava completamente bloqueada, tendo como motivo provável a queda de alguma barreira. Sem energia não havia rádio, televisão e nem internet. Conversamos com alguns irmãos no telefone fixo e descobrimos que outros bairros, não sabendo exatamente quantos e nem a extensão dos seus problemas, haviam sido atingidos também por uma enorme quantidade de chuvas durante toda noite, o que acabou ocasionando muitos deslizamentos de terra e perdas de vidas. Logo depois, começamos a entender que essa também era a realidade do bairro onde moramos e às áreas adjacentes a ele. Por volta de 12h00min lá se foi também o telefone fixo e nossa situação depois de 17 horas da chuva ter iniciado era a seguinte:
• Estávamos sem energia há cinco horas.
• Não havia nenhuma forma de se comunicar ao telefone, seja fixo ou celular.
• A internet, por conta da falta de energia, estava descartada.
• Sair do Bairro era um problema tendo em vista que as vias opcionais também estavam alagadas ou bloqueadas.
• O número de casas que haviam desabado durante a noite e na parte da manhã crescia assustadoramente em nosso bairro e nas localidades em volta.
• A chuva persistia, dificultando toda tentativa de locomoção.
• Não havia circulação de ônibus.

À tarde começamos, mesmo que ainda de forma modesta, a perceber alguns sinais de pânico das pessoas. No comércio local já havia fila para se comprar velas, pão e água. Mesmo assim, a ficha ainda não havia caído, não parecia ser possível que tudo isso estivesse acontecendo, mas era verdade, nós estávamos isolados sem comunicação e sem acesso, seja de saída ou entrada em nosso bairro.

Junto com o final da tarde, que completaria 24 horas do início deste pesadelo, chegou à esperança humana da chuva parar, da energia voltar, do telefone retornar a funcionar e das vias urbanas voltarem ao normal. Mas o que se seguiu, foi mais uma noite de chuva num volume menor que a anterior, mas suficiente para causar novos estragos e perdas de vida.

Além das perdas humanas e materiais, destaco a ausência completa de informação por parte dos órgãos oficiais, como um dos fatos mais complicados em toda essa situação. Em nenhum momento nós, tendo em vista o isolamento que sofremos, fomos informados pelo poder público da extensão do que estava acontecendo. Além disto, a Ampla, nossa concessionária de energia, não teve nenhuma ação no sentido de nos deixar conscientes dos acontecimentos ligados à área de energia, onde se deu o problema e quanto tempo iria levar para ser restaurada essa situação. Quanto às empresas telefônicas, torna-se desnecessário algum comentário, já que o número de reclamações dos consumidores as colocou em primeiro lugar no ranking das mais problemáticas no Brasil.

Talvez você esteja se perguntando, “O que esse cara esperava deles numa situação destas, já que o problema não se limitou apenas ao bairro dele”? Vou te responder, eu esperava em relação ao nosso bairro e aos outros que foram mais atingidos:

1. Respeito pelas pessoas que morreram em todos os locais e pelos seus familiares, que tiveram que passar a noite seguinte sem luz, sem comunicação e sem saber exatamente o que estava acontecendo na vida deles.
2. Respeito por aqueles que não sofreram nada do tipo perder um familiar ou ter sua casa destruída, mas que de certa forma participam da dor de seus vizinhos e do receio de não saberem exatamente o que estava acontecendo, já que nenhuma informação oficial veio até eles.

Além disto, tenho certeza que, seja no poder público ou nas concessionárias, existem pessoas capacitadas a pensarem numa forma de estabelecer comunicação com a população em casos como este. Mas se não conseguiram pensar em nada, vai ai umas dicas:

a) Lançar de helicópteros panfletos informando a realidade da situação, o que está sendo feito para resolver, tempo previsto e orientações necessárias para estes momentos do tipo: Quem estiver desabrigado neste bairro deve se dirigir as localidades x,y e z.
b) Mobilização de carros, que muitas vezes estão parados ou servindo a funcionários públicos, com sistema de alto falante circulando nos bairros atingidos, dando informações do tipo que foram sugeridas na opção(a).
c) Utilizar as praças ou espaços abertos, nosso bairro tem uma praça muito bem equipada que serve para mil e uma atividades, como centro de divulgação de informações oficiais sobre a situação.

Mas voltemos ao nosso relato. No amanhecer do dia 07, dia em que resolvemos compartilhar nossa visão dos fatos com você que nos visita, fomos até nossa igreja para clamarmos a Deus por nosso bairro e pelas localidades que sofreram e continuavam a sofrer com as chuvas. No retorno procuramos tomar mais conhecimento sobre tudo que estava acontecendo e nos entristecemos ao ouvir vários relatos de mortes e destruição. Corpos expostos nas calçadas, pessoas ainda desaparecidas debaixo dos destroços e um número cada vez mais crescente de desabrigados.

Mesmo com a melhora do tempo neste dia, o que vimos em relação ao trânsito foi à maioria das pessoas que saíram para trabalhar, retornarem para casa por falta de opção viável para chegar ao seu local de trabalho. Por volta das 12h00min a energia retornou, pelo menos em nossa rua, e conseguimos através da televisão e do rádio tomar conhecimento da extensão do desastre, seja à nossa volta ou nas outras localidades de nosso Estado. Como sempre, observamos que a maior ajuda veio da própria população que é sempre muito solidária nestas horas, das igrejas e das associações de moradores, que acabam assumindo as funções do poder público, que nestas horas deveria tomar a frente com eficiência e coordenar este trabalho de pós-desatre.

A noite chegou completando 48 horas deste turbilhão, com previsão do tempo de diminuição gradual das chuvas até sábado e com reportagens mais completas dando uma dimensão mais real do estrago, principalmente na cidade de Niterói, onde o número de mortos está por volta de 60% do total do Estado. Os telefones sejam o fixo como celular (principalmente o Claro) ainda não retornaram à ativa.

Manhã do dia 08, agora por volta das 08h00, 63 horas depois do início das chuvas, ainda não temos telefones e nem condução no bairro. A pista principal de acesso ao Centro da cidade parece está liberada, já que de nossa janela observamos algum movimento de carros nesse sentido, o que já melhora nossa situação de isolamento. A pista de retorno do centro continua parada, o que deve significar que ainda está bloqueada.

Ao abrir o jornal me deparei com a informação de um novo deslizamento em Niterói no bairro do Viçoso Jardim. Foram 50 moradias que desabaram. Em contradição a essa informação, o mesmo jornal registra que o Ministério da Integração Nacional realizou uma disparidade em relação à distribuição de seu orçamento do programa de Prevenção e Preparação para desastres. Olhando os anos de 2008/09, o Rio, um dos estados que mais tem sofrido nesta área, recebeu 0,9% deste orçamento, enquanto a Bahia, estado onde o ministro gestor deste feito pretende se candidatar a governador, ficou com 64,6%, lembrando também que Santa Catarina e outros estados ficaram com um total de 3%. E pasmem, o presidente Lula saiu em defesa deste ministro.

E ainda tem gente que dá ao governo federal um índice de aprovação de quase 80%.

Quanto ao governo municipal, o mesmo jornal destaca uma fala do prefeito Roberto Silveira: “É evidente que o poder público não está preparado para esse tipo de coisa. Isso foi a maior tragédia que aconteceu na cidade desde o incêndio do Circo em 1961, além de ser a pior tempestade ocorrida desde 1966”.

Como ele, eu também acredito que essa foi uma das piores situações que Niterói viveu e está vivendo, mas como ele mesmo destacou, a última grande tempestade ocorreu há quase cinco décadas e de lá para cá, o orçamento da cidade cresceu, a tecnologia evoluiu, o sistema de gestão de cidades foi aprimorado, a máquina pública se expandiu, investimentos vultosos foram realizados (será que no local certo?) como o caminho Niemeyer, tudo isso deveria nos tornar mais capacitados a lidar com o que estamos vivendo hoje, seja na esfera do poder público ou das nossas maravilhosas concessionárias de serviços. Falando nisso, o telefone fixo só retornou ás 16h00min (48 horas depois de ficar mudo) de hoje e o celular, até o horário desta postagem, ainda continuava fora de área.

Vou encerrar por aqui, mas vou deixar  esse histórico para você pensar. Não estou discutindo uma atenção especial para nosso bairro, estou buscando refletir sobre que tipo de governon (seja na esfera que for) nossa população merece. Além da eficiência que deve ser uma marcar de qualquer governo, nós precisamos ser respeitados com informações e um bom atendimento.
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I am writing Barrio Santa Barbara, Niteroi, Rio de Janeiro and confess that our last 36 hours were totally atypical in relation to climate and its consequences in the life of cidade.Infelizmente such a situation we describe, that the our eyes sounds like something surreal, has been part of everyday life for some communities in our state. Therefore, I bring this story to the public, aiming to make us reflect on the fragility of our authorities and utility services in the face of emergencies.

In the afternoon of Monday, day 05Abr brought with it a steady rain and strong. Regardless of this fact, me and the students of the School of Theology "we honor our commitment to be at church for our weekly class.

At the end of the lesson the rain was thinner, which allowed everyone to go to their homes peacefully. At about 22:00 the rain turned to intensify, and this time with strong winds and remained so throughout the night.

At dawn of day 06, around 07:00, we were without power, without signal in the cell and found that the main way our neighborhood access to downtown Niterói and Rio de Janeiro, it would be my destination this morning, was completely blocked, with the probable reason the fall of some barrier. Without energy, there was radio, television or Internet. We talked with some brothers in the telephone and found that other neighborhoods, not knowing exactly how many, nor the extent of its problems, had also been hit by a huge amount of rain throughout the night, which ended up causing many landslides and loss of lives. Soon after, we began to understand that this was also the reality of the neighborhood where we live and the areas adjacent to it. Around 12:00 there was was also the telephone and our situation after 17 hours of rain had started was as follows:
• We were without power for five hours.
• There was no way to communicate on the telephone, whether fixed or mobile.
• The Internet, due to the lack of energy, was discarded.
• Exit Quarter was a problem considering that the optional routes were also flooded or blocked.
• The number of houses that had collapsed during the evening and the morning grew tremendously in our neighborhood and the locations around.
• The rain persisted, hampering any attempt to get around.
• There was no movement of buses.
In the afternoon began, even though still modestly, to see some signs of panic people. In the local market had already lining up to buy candles, bread and water. Still, the statement had not yet fallen, it seemed possible that all this was happening, but it was true, we were left stranded without communication and without access to either exit or entry into our neighborhood.
Along with the late afternoon, which would complete 24 hours of the beginning of this nightmare, came to human hope the rain stops, the power is restored, the phone return to work on urban roads and return to normal. But what followed was another night of rain in less volume than the previous one, but enough to cause further damage and loss of life.
Besides the material and human losses, highlight the complete absence of information from official agencies as one of the most complicated facts in this whole situation. At no time did we, in view of the isolation we suffered, we were informed by the public of the extent of what was happening. Moreover, the Broad, our energy provider, had no action in order to leave us aware of events related to the energy area, where the problem occurred and how long it would take to restore the situation. As for the phone companies, it becomes unnecessary to some comment, since the number of consumer complaints has placed first in the ranking of the most problematic in Brazil.

Maybe you're wondering, "What this guy expected of them in this situation, since the problem was not confined to his district? I'll answer I expected in relation to our neighborhood and others that were hardest hit:
1. Respect for people killed in all locations and their relatives, who had to spend the next night without light, without notice and without knowing exactly what was happening in their lives.
2. Respect for those who have not suffered anything like losing a family member or having your house destroyed, but that somehow involved the pain of their neighbors and the fear of not knowing exactly what was happening, as no official information came to them.
Besides, I'm sure, whether in government or in dealerships, there are people trained to think in a way to establish communication with the population in such cases. But it could not think of anything, i will give some tips:
a) Posting leaflets from helicopters telling the reality of the situation, what is being done to solve, schedule and guidelines necessary for these moments like: Who is homeless in this neighborhood should address the locations x, y and z.
b) Mobilization of cars, which are often stopped or serving civil servants, with loud speaker system circling the neighborhoods affected, giving information of the kind that have been suggested in option (a).

c) Use the squares or open spaces, our neighborhood has a place that serves very well equipped for a thousand and one activities, such as center for the dissemination of official information about the situation.
But back to our story. At the dawn of day 07, the day he decided to share our vision of the facts with you that we visit, we went to our church to cry out to God for our neighborhood and the locations that have suffered and still suffer from the rains. In return we seek to take more knowledge about everything that was happening and saddened to hear reports of several deaths and destruction. Bodies exposed on the sidewalks, people still missing under the rubble and an increasingly growing number of homeless.
Even with the improvement of time on this day, what we saw was in relation to traffic for most people who went to work, return home for lack of viable option to reach your workplace. At about 12:00 the energy returned, at least in our street, and got through television and radio to know the extent of the disaster, be around us or in other towns of our state. As always, we observed that the greatest help came from the people themselves which is always very supportive at these times, churches and neighborhood associations that eventually take over the roles of government, that these times should take the lead and effectively coordinate the work post-disasters.
Night came on completing 48 hours of this maelstrom, with weather from gradual decrease of rainfall through Saturday, with reports giving a fuller dimension more real damage, mainly in the city of Niterói, where the death toll is around 60% of the state total. The phones are the fixed and mobile (especially the course) has not yet returned to active duty.

Morning of day 08, now around 08:00, 63 hours after the onset of rains, we still lack telephones and not driving in the neighborhood. The main floor of access to City is released it seems, since our window we see some movement of cars in this direction, which has improved our isolation. The trail continues back to the center stop, which should mean it is still blocked.

When you open the newspaper I came across new information in a landslide in the district of Niteroi Lush Garden. There were 50 houses that had collapsed. In contradiction to this information, the same newspaper reports that the Ministry of National Integration held a disparity in the distribution of its budget for the program of prevention and disaster preparedness. Looking at the year 2008/09, the Rio, one of the states that have suffered most in this area, received 0.9% of this budget, while the state of Bahia, where the minister made this manager intends to run for governor, won 64, 6%, also remember Santa Catarina and other states were a total of 3%. And amazingly, President Lula came out in defense of this minister.
And yet there are people that gives the federal government an approval rating of nearly 80%.

As for the municipal government, the same paper highlights a speech the mayor Roberto Silveira: "Clearly the public is not ready for this sort of thing. That was the greatest tragedy that happened in the city since the fire of the Circus in 1961, apart from being the worst storm since 1966. "
Like him, I also believe that this was one of the worst situations that Niterói lived and are living, but as he himself pointed out, the last big storm occurred almost five decades and then, the city's budget grew, technology evolved The system of city management has been improved, the public machine expanded, large investments were made (be it in the right place?) as the path Niemeyer, all this should make us more able to deal with what we are living today, is in the sphere of public utilities or our wonderful services. Speaking of which, the landline only returned at 16:00 today and the phone until the time of this posting, still remained out of the area.
I'll quit here, but I'll leave all that history for you to think. I am not discussing a particular attention to our neighborhood, I'm trying to reflect on what kind of governon (whether in the sphere that is) our population deserves. Besides efficiency, we need to be met with information and good service.

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